Nervos!
Nervos! Nervos!
Vai-se
lá saber porquê, mas queria imenso fazer este trilho, não sei se por ser tão
pertinho de casa, se por todos os anos ouvir o pai a falar dele (a prova que
faz desde a 1ª edição), mas a cabeça dizia que sim e assim foi, de coração
atrás!
O
Trilho das Lampas acontece ao sábado ao final do dia e consoante a velocidade
de cada um, ainda se pode ver um pôr-do-sol espectacular na praia da Samarra
(que claramente não foi o meu caso).
Estava
exclusivamente nervosa por ser o meu trilho oficial mais longo e ainda por cima
com grande parte percorrida durante a noite, conhecendo já eu o percurso e
tendo perfeita noção de que certas zonas à noite iam ser bem complicadas.
A
grande novidade e muito boa é que… o pai disse que me ia acompanhar! Tive
sentimentos mistos, super feliz por mim que ia com a melhor companhia possível
e que ainda por cima conhece super bem a zona o que me dava segurança a
triplicar, mas, por outro lado, o meu pai faz esta prova desde a 1ª edição e
pela primeira vez ia fazer uma prova de treta porque eu meti na cabeça que ia
fazer esta prova. Meu pai! Podia lá eu pedir melhor… e vais fazer-me tantas, mas tanta falta que nem me cabe no peito a
dor que sinto…
Sem
pressas, eu e o pai ficámos no fim, tentando assim evitar as pessoas que vão
com a ‘gula’ e que atropelam os demais, eu sabia perfeitamente que não ia para
lá para ganhar, pelo que partir no fim, no meio ou no início, era-me
completamente irrelevante, eu só queria terminar e de preferência abaixo das 3
horas.
PROVA
O
início tem uma voltinha meio tola, no jardim principal de São João das Lampas
em forma de ‘S’ e depois passa-se
para o outro lado da estrada em direcção à costa e aos trilhos.
A
primeira parte do percurso, eu diria que é a mais fácil, descemos muito mais no
início da prova, ou seja, no início andava eu feliz da vida, mas como partimos
no final apanhámos muitas pessoas pelo caminho com mais dificuldades do que eu
e com mais mariquices, querendo eu dizer com isto, que apesar de ser um zero à
esquerda e super coxa (das duas pernas
atenção!) não sou nada comichosa com a sujidade, com meter os pés na lama
ou água e por aí fora… o que significa que se não encontro uma solução menos
agressiva, não perco tempo e faço o que tenho a fazer.
Primeiro
obstáculo: água, um mini riozinho e ficámos logo parados, sim, porque depois
são caminhos estreitos, o que significa que enquanto os da frente não passarem,
tu não vais a lado nenhum e ficamos todos ali encalhados. Depois do obstáculo
de água veio logo uma subida, o que acabou por nos empatar imenso, depois do
obstáculos tínhamos ficado todos muito em cima uns dos outros, sem grandes
margens e depois eramos tantas pessoas, em filinha, a andar, a avançar
devagarinho, até dava para socializar e falar de peúgas, coser peúgas e sei lá
eu mais o quê, mas a rapariga que ia à nossa frente falava sobre esse dilema da
vida dela, ela e as peúgas, claro o palhação do meu pai achou por bem
manifestar a sua teoria da peúguice (inventada
à pressão) que só visto (ouvido!)…
Não
consigo ser específica quanto às zonas por onde andava, o meu sentido de
orientação é péssimo, pelo que as minhas descrições sobre as minhas provas em
trilhos é deveras hilariante, baseando-se em caminhos, verde, montanha, árvores,
arbustos, verde, montanha, estreito, subidas,… Com base no descrito
anteriormente, lá estávamos nós num caminho estreito, meio enlameado, entre
arbustos e em frente uma poça de lama com proporções assim grandinhas, a nossa
única hipótese era um caminho à direita, muito estreitinho, a ser feito com um
pé à frente do outro e devagarinho. Era a minha vez. Seguia o pai passo a
passo, devagarinho. Não é que a rapariga atrás de mim se agarra às minhas
ancas, claro, desequilibrei-me e fugiu-me o pé e eu caí para o lado direito
onde me equilibrei mais ou menos com a mão e molhando apenas a perna e o braço
do lado direito (percebi no dia a seguir que tinha caído de tal forma com a mão
que espetei qualquer coisa entre a unha e dedo e acabei por ficar com a unha negra),
para minha surpresa a rapariga diz “Ah era par te ajudar, pelos vistos foi má
ideia…”, não quero tecer comentários, ou pelo menos muitos, principalmente
porque tenho a vaga ideia que ela é que se desequilibrou e acabou por se
agarrar a mim, eu que não estava de todo à espera … pumba! Charco.
A
partir daqui foi mais do mesmo, subidas, descidas e mesmo nas descidas tínhamos
que ir devagar ou corríamos o risco de ir a rebolar lá para baixo. As subidas
para mim foram sempre muito custosas, a asma continua a vencer-me muito aqui e
não sei como controlar, mesmo a fazê-las a andar (com um bom ritmo) fico
completamente estafada e com falta de ar, a garganta a saber a sangue, o corpo
super pesado, os pulmões apertadíssimos e a sentir-me uma porcaria.
O
pôr-do-sol. Seria se nesta altura já tivesse passado a praia da Samarra e já
tivesse subido as suas arribas, a partir daí o percurso já não era tão técnico
e assim o mais difícil tinha sido feito com a luz do dia. Claro que isso não
aconteceu, não ao ritmo das minhas pernas, quando se deu o pôr-do-sol ainda nem
estava a descer para a praia, estava a terminar um subida e ainda me faltava um
pouco para começar a descer para a praia.
A
chegada à praia para mim já representava uma vitória, significava para mim um
pouco mais do que metade do percurso feito. Quando cheguei à praia sorria, para
mim e por mim, mas pouco tempo nos demoramos lá, ainda havia uma réstia de luz
e o pai queria ao máximo aproveitá-la para subir as arribas da praia, que ainda
eram lixadas. Lá em cima havia um abastecimento, só bebi água, o pai disse para
comer, não me apetecia, parecia que ainda estava a arrotar o almoço tardio.
Nestas
descidas das arribas, houve uma que demos com alguém lesionado, que estava
caído entre as rochas e todas as pessoas assobiavam, aproveitavam os apitos que
tinham para chamar a atenção (aliás acho que servem exactamente para estas
situações) e ninguém do staff se mexia. A uns 3 metros de mim estava um senhor
da organização e ia embora, começámos todos a gritar por ele, até que lá veio
ter connosco. Tentámos explicar a situação, ainda não tínhamos visto a pessoa,
mas entendemos quase imediatamente o que se estava a passar, alguém tinha caído
e precisava de assistência. Começámos a descer e o senhor chama-nos a dizer para
confirmarmos se era verdade… Depois de ouvir mil pessoas a chamarem por ele e a
pedir assistência, estava a pedir-nos para descer tudo e depois o que? voltar a
subir? não tenho comentários, deviam estar preparados para estas situações,
aliás, nem sei como iam socorrer a pessoa porque ali só de helicóptero…
Quando
finalmente começámos a dar a volta, por dentro, sem virmos encostadinhos à
costa, já eu ia mais para lá do que para cá, estava cansada, sentia-me
amassada, mais facilmente cedia nas subidas e depois, deixem-me que vos diga
que não fui feita para as lanternas na cabeça! Normalmente é uma comichão
louca, não dá, desta vez para precaver essa situação levei aqueles lenço/fita
(nem sei como é que se chamam, nunca tinha pensado sobre o assunto) mas nem
assim, ora puxava para a frente, ora empurrava para trás, depois a minha luz
era muito fraquinha, fartei-me de tropeçar, tinha que andar colada ao pai para
conseguir ver o chão, mas depois já estava tão cansada que o perdia em
segundos… coitado! Tem uma santa paciência e veio sempre a “puxar” por mim.
Quando
largámos a parte dos trilhos e finalmente vi alcatrão só pensava “Estou a
chegar. Estou a chegar.”, devia estar a 1 km da meta mas pareceu-me
interminável, o pai continuava a “puxar” por mim e lá ia eu, meio em jeito
“encantado” pois forças eram nenhumas.
Meta!!! 2h43m19s, menos de 3 horas.
Feito!
"Agora
só quero ir comer a minha sopinha, tomar uma banhoca e não me mexer durante uma
semana!"
M.
"o meu sentido de orientação é péssimo, pelo que as minhas descrições sobre as minhas provas em trilhos é deveras hilariante, baseando-se em caminhos, verde, montanha, árvores, arbustos, verde, montanha, estreito, subidas" - Se assim eu já fico cheia de vontade de experimentar uma prova em trilhos, imagina se a descrição fosse diferente :P
ResponderEliminarQuanto aos frontais, a única vez que comprei um (logo no início destas andanças, em Janeiro talvez, corria muitas vezes de madrugada e ainda de noite em Monsanto) ainda não estava convencida que iria correr à séria. Achei que mais cedo ou mais tarde ia desistir portanto, entrei na decathlon com aquele sentimento de "Despacha-te, compra um qualquer para desenrascar!". A verdade é que comprei o meu frontal por 3.99€ e, na madrugada seguinte quando o liguei em Monsanto, todos os meus colegas com frontais de 50€ (preço mínimo) disseram "WOW!!!" ahahahahah mas também o usava com uma fita na cabeça. Não será do material que é feito o teu?
Fiquei com vontade de experimentar o trilho das lampas. E temos de combinar um treino em Sintra um dia destes! :)
Excelente prova, muitos parabéns!
Beijinhos
Se tivesse "skills" de escrita já estavas inscrita numa prova ahahah
EliminarJá não é a primeira vez que uso frontal, mas acho que não me entendo de todo com aquilo na cabeça... Não dá.
Aponta já na agenda de 2018 :) em Maio e eles normalmente na 6feira Santa (+/- 1 mês antes) fazem sempre um treino dessa prova e de manhã, pelo que podes fazê-la a dobrar :D ou em jeito de preparação.
Não fui das primeiras a chegar, mas para mim foi uma excelente prova ^^ Obrigado
Beijinhos
Só hoje aqui cheguei e estive entretida a ler tudo de uma ponta à outra... :)
ResponderEliminarEm primeiro lugar, a tua cara não me é nada estranha! Provavelmente, do Cork, em que acabámos com tempos muito próximos e era uma prova com pouca gente. Eventualmente, de outras provas que vi que fizemos as duas. Mas tenho mesmo ideia de já te ter visto! :)
Em segundo lugar, parabéns! Nota-se uma evolução enorme não só no nos teus tempos mas também no aumento das distâncias. Muito bom! Qual asma, qual quê?! És um claro exemplo de que quando queremos, conseguimos!
Vou ficar por aqui a assistir aos próximos episódios também :) Bons treinos!
Bom saber que alguém tem paciência, da mesma forma que falo pelos cotovelos, aparentemente também escrevo ...
EliminarAs coisas giras das provas deste estilo são essas, começas a reconhecer as caras e a falar a pessoas que não conheces de lado nenhum mas sentes uma proximidade por terem a mesma "paixão" ou "divertimento".
Tenho fases, ora tenho estou super bem e me aguento melhor ou parece que tenho o peso de 5 pessoas e tudo me custa. Mas fico muito feliz quando consigo concretizar estes meus pequenos (grandes) desejos, devagar ou como quer que seja.
Bons treinos e Boa sorte para esta nova fase!
Já me disseram maravilhas dos Trilhos das Lampas, mas nunca participei. Apenas o fiz no ano passado na Meia Maratona das Lampas e com muita pena minha não vou poder regressar este ano. Com a minha apetência para trail também iria certamente perder o pôr do sol. :)
ResponderEliminarFizesse eu o relato de um trail como faço das provas de estrada também seria assim. Uma subida e depois uma descida e o raio de um ribeiro lá no meio onde não havia caminho alternativo. E paisagens muito fixes. :)
Não tendo participado nas provas que tens descrito a tua cara também não me era estranha e sei perfeitamente de onde te "conheço". Foi de um sítio onde fiquei a saber, por exemplo, que a Rosa Mota também é asmática.
Beijinhos!
Adorei o Trilho das Lampas, adorei. Não sei se em grande parte pela ligação do meu pai com o mesmo, pelo facto de ter sido o meu trilho mais longo até à data (e provavelmente para sempre), se por ser aqui na minha zona, se pelas paisagens... um pouco irrelevante, gostei e pronto.
EliminarEsse teu pequeno parágrafo para descrever o trail acho que é reutilizável para um próximo que eu faça, porque efectivamente é isso «Uma subida e depois uma descida e o raio de um ribeiro lá no meio onde não havia caminho alternativo. E paisagens muito fixes. ».
Ohhhhh!!!! Bom saber que alguém tem paciência para ler os meus testamentos.
Beijinhos e Boas corridas !