Ando
com o bichinho dos trilhos, não que seja excelente na coisa, nem minimamente
boa, nem razoável sequer, mas provavelmente por todos os outros motivos
explicados anteriormente noutro post… Depois tenho a pancada dos 21
quilómetros, talvez porque era sem dúvida o meu grande objectivo na corrida, a
distância da Meia Maratona e por tanto tempo inalcançável. Ora, depois de Paris
tudo mudou, fiz 21 quilómetros pela primeira vez lá, depois vim fazer os 20K de
Cascais, depois mais tarde oficializei a distância na Meia dos Descobrimentos
seguindo-me em Março com mais 2!
Se
as faço tranquilamente?! NÃO! De
todo! Umas melhores que outras, mas por volta do quilómetro 15 começo sempre a
entrar em paranóia, os pés a ficarem dormentes, ou o direito a fazer bolha as always, o desespero de os quilómetros
não passarem… Devia escrever dramas.
Isto
tudo para dizer que fiquei com o bichinho de ir fazer o Trilho das Lampas, era
trilho, era na minha zona, zona bonita, com passagem na Praia da Samarra e
vista para a Praia da Vigia, a distância era grande podia puxar por mim. E
melhor de tudo, fazem sempre um treino para essa prova na 6ª feira Santa, a
minha ideia era chatear o meu pai para vir comigo, na 6ªfeira fazia em jeito de
testar o quanto a coisa era fazível, se me aguentasse e o fizesse num máximo de
3h30 iria à prova, pelo que deixei a inscrição pendente de pagamento.
6ªFeira Santa
De
Santa não teve nada, estava com uma gastroenterite, andei de tal forma preguiçosa
que nessa semana encomendei todos os dias comida à Tété, senhora com refeições
a 3,80€ entregues no escritório, a comida não é óptima e maravilhosa, mas por
3,80€ com doses satisfatórias e entregues sempre 11h30 no escritório não é nada
mau. Coincidência ou não, a semana que comi sempre Tété a minha barriga não
estava bem, muitas idas à casa de banho, um treino a meio da semana no qual
tive que parar a meio tal eram as dores… Quando acordei na manhã de 6ªfeira,
ainda eram 6h da manhã e eu já estava trancada na casa de banho e com dores
imensas, tinha que me contorcer toda para tentar aliviar, disse ao pai que não
iria conseguir fazer o treino por grande pena minha, estava destroçada.
Fui
às urgências e voltei toda “kitada”
de medicação, eram comprimidos para tudo e tive direito a dieta também,
arrozinho branco, frango ou peru grelhado e creme de cenoura. Muita água. Fim-de-semana
grande em altas, eu esbanjava felicidade.
O
pai foi na mesma fazer o treino, foi desde o 1º ano que o realizaram e conhece
sei lá eu quantas pessoas para lá, fiquei com mega inveja, por outro lado sei
que não o atrapalhei porque obviamente não tenho a mesma pedalada que ele.
Descansei
o fim-de-semana todo e chateei o pai para ir fazer o mesmo comigo no Domingo,
se eu me estivesse a sentir melhor.
Domingo
Levantei-me
cedo e tomei um bom pequeno-almoço, fiz questão de o fazer bem cedo para
entender como estava a minha barriga, continuava inchada e meio dura, mas nada
comparado com o que estava anteriormente. Fui forte e segui em frente com o que
queria fazer, tinha que ser!
O
pai cortou a parte do troço que era em estrada, o 1º quilómetro, e começamos
logo pelos trilhos. Continuo a ser meio trapalhona, tropeço umas quantas vezes,
mas não fui ao chão o que por si só e bastante bom para mim.
Fui-me
esforçando o melhor que pude e obviamente sendo só eu e o pai sentia-me mais
confortável e à vontade, por vezes o pai parava para me explicar zonas, ver a
vista, tirarmos umas fotografias. As subidas continuam a ser um massacre, não
percebo como ele consegue, subidas a sério e ir sempre em passo de corrida,
porque há subidas e subidas, mas as dos trilhos normalmente até na alma me
doem.
Fui
fazendo tudo sem me queixar, melhorei bastante nos últimos 2 anos a nível de
queixas, fazia birras quando o caminho não me agradava, mal via as subidas, se
o pai fosse muito depressa… Hoje em dia limito-me a ir na minha, se parar parei
e não faço alarido, quando consigo retomo, mas ao menos deixei de resmungar com
o pai nesse sentido.
Não
sei porquê mas sentia-me tranquila, normalmente quando são distâncias grandes
parece que tenho um chip que começa a fazer curto-circuito por causa dos
nervos, a controlar a distância a todos os momentos, mas por incrível que
parece estava bem nesse sentido, claro, custava-me, sentia-me cansada, vinham
as subidas e eu engolia em seco, mas por outro lado sentia uma sensação de
calma.
O
dia esteve sempre agradável, a vista foi espectacular do início ao fim, os
caminhos dos trilhos são sempre bem mais interessantes que os de estrada, dá
vontade de tirar fotografias a todos os momentos, registar todos os caminhos
por onde passámos, todas as subidas e descidas.
Conheço
a praia da Samarra desde pequena, não é uma praia que frequente, mas como a
conhecia e sabia que o percurso passava por lá, quando finalmente a vi, quando
finalmente toquei na areia e vi o mar… Felicidade. Acho que é este o
significado verdadeiro da corrida. Nesta altura tinha à volta de 9/10 km, ou
seja, sabia que aqui seria pouco mais do que o meio da prova oficial. Isto da
praia é muito bonito, mas a subida que me esperava da praia até lá a cima…
M-E-D-O.
Vista
incrível para a praia (não vigiada) da Vigia! A partir daqui deixávamos de
estar junto à costa, começávamos a correr por trilhos interiores e a voltar para
trás, os caminhos já não eram tão perigosos pois já não tínhamos as enormes
arribas em que nos arriscávamos a cair lá para baixo, e que já eram difíceis de
fazer à luz do dia, quando me recordava que a prova oficial grande parte era
feita à noite, sentia o meu corpinho todo a tremer.
O
caminho de volta era mais pacífico mas continuava a ter altimetria, eu ia
fazendo ao meu ritmo o melhor que podia, sabia que tinha que conseguir fazer
isto, para deixar o pai orgulhoso e para ganhar coragem de fazer a prova
oficial, mas não nego que o cansaço se apoderava de mim, mas o pai sempre muito
paciente, chato, mas paciente em aturar-me também.
18 km feitos!
Serei
capaz de fazer mais 2 km certamente! Inscrição confirmada!
M.
P.S. Descobri que o meu pai adora selfies ...
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