segunda-feira, 15 de agosto de 2016

de quase nada aos 21,1 km

Teimosia. Sim, acho que foi graças a isso que completei os 21km que tanto queria. Estava em Paris, sem os meus, sem nada. Com o tempo obviamente criei amizades, conheci novas almas, novos corações que hoje me são importantes. Mas no início, no início não era difícil, mas também não era fácil. Os meus fins de semana eram aborrecidos, eu era aborrecida, sem grandes paciências para museus. Gosto de ar livre, gosto de conhecer, mas não museus. Lamento, cada qual com a sua pancada.

Restavam-me as cervejas, as mais caras cervejas da minha vida, logo eu que me contentava com uma mera e modesta Super Bock. Foram as jolas da noite e as corridas do dia que ocuparam grande parte dos meus dias em Paris.

Entre conversas mal percebidas num Skype bêbado de soluços, heis que disse ao Pai que iria fazer os 20km de Cascais... Sem grande discurso de motivação dignou-se a dizer-me, precisas de treinar e fazer pelo menos uma corrida de 16km antes dos 20km e que não fosse no fim de semana de véspera.

Lembro-me da 6ª feira, sair do trabalho, combinarmos ir beber uns copos, lembro-me de rir e beber mais do que uns copos. Dormi. Dormi muito. Também recebi uma mensagem "Então já fizeste o teu treininho?" Ops, doeu na alma. Domingo acordei com uma preguiça daquelas dolorosas e vagarosas. Tomei um bom pequeno almoço, fiz ronha, gastei muita Internet do telemóvel, às 12h já estava cansada do nada. Já tinha repassado o facebook de uma ponta a outra, a televisão continuava toda em francês e é insuportável ouvir o Brad Pitt ou outro senhor jeitoso que sempre conheci na minha televisão, com toda uma fala nova, com todos aqueles "avec" e "en fait", nada contra os meus meninos franceses, mas simplesmente essa não é a voz desses senhores e eu fico com umas comichões incríveis. 

Nada mais a fazer, 12h30, mil roupas, 3 camisolas polares, calças polares, meias quentinhas, luvas, gola, MP3... todo um cenário (parvo). Lá fui, vi no google maps, Vou sempre pelo rio. Viro ali quando fizer os 9km viro e dou meia volta, dá uns valentes 18km. Será que sou capaz? Vou levar o passe, ainda me aborreço... Vai-me dar dor de burro. As pernas vão me doer. Ai... Não sei quantas coisas pensei. Mil. Milhares. Esta cabeça não pára. Mas fui... Olhava em volta, apreciava a paisagem, tirava fotografias, percebi que tinha que comprar umas luvas com aquela pontinha do dedo "touch", fiz vídeos, armei-me em esperta e tive que dar meia volta mil vezes, passei por sítios estranhos, passei por sítios lindos...

Relógio GPS : 1h e pouco de corrida 10/11km.

Bolas! Não vi a ponte, já devia ter passado para o outro lado, havia uma ponte ao quilómetro 9. Impossível não ter visto a ponte. Estou aqui a beira do rio. Ahhh uma ponte!! Bora! Okay... Provem de uma via rápida não tenho forma de a alcançar.

Relógio GPS : 13km

Desesperada, farta de correr, aborrecida, perdida, como passar para a outra margem. Heis uma ponte! Tão longe. Uma dupla ponte? Estranho

Relógio GPS : 14km

Finalmente do outro lado da margem, finalmente a voltar para trás! Mais 4km e faço os 18km, muito bom para quem nunca correu assim tanto, dos 18km aos 20km é uma diferença de 2km, se for capaz de fazer os 18km também faço os 20km.

Relógio GPS : 15km
O quê???! Só?

As pernas já estavam em modo gelatina, eu já não as acho muito definidas, senti-las tipo gelatina faz-me sentir muito melhor. Respiração estava boa, nesse campo estava  sentir-me bem.

Relógio GPS : 16km
O quê????! Outra vez? Só passou um quilómetro?

Foi assim até ao 18km, sempre que olhava para o relógio parecia que os quilómetros não passavam, já poucas energias tinha para ser capaz de tentar acelerar.

Relógio GPS : 18km
Mas... se eu fizer mais 2km que não é nada, são menos de 15min, fico com os 20km feitos e sei que serei capaz.

Lá fui, com o mesmo problema desde o quilómetro 14, os quilómetros simplesmente não passavam. 

Relógio GPS : 20km
Mas se eu aguentar a treta de 1km e pouco conquisto o grande objectivo e sonho que tenho, correr uma meia maratona.

Nunca me tinha custado tanto correr 1km, bateu os 21km e como a meia maratona não é certinha queria correr aqueles metros da diferença e o quando me custou!

21,6 KM!!!! FELIZ FELIZ FELIZ!!!




Ninguém me pode tirar aquele sentimento, ninguém consegue imaginar a alegria dentro de mim, o quanto o meu coração estava cheio de felicidade, apetecia-me tanto gritar! Estava aborrecida desde o quilómetro 14 e persisti. Conquistei o meu grande objectivo. <3

Bolas... faltavam quase uns 6km para chegar ao hotel, não fazia ideia onde estava, onde era o metro mais próximo, as minhas pernas queriam parar, eu queria atirar-me para o chão e descansar... Aguentei, procurei o metro mais próximo, enganei-me nos caminhos, andei às voltas, cheguei! 

Almocei quase às 16h da tarde! Estava completamente estoirada, mas estava tão feliz, parecia que o meu coração ia rebentar.

Tinha combinado ir passear com um colega francês... foi top, tirando que ainda andamos uns 6km a pé, eu não me sentia nada cansada, que ideia absurda era essa?! Lembro-me de ele gozar com o meu jeito de andar, lembro-me de estar de ténis e ele não estar habituado e eu dizer que adoro! Caí na burrice de dizer adoro ténis porque sou uma trapalhona e hiper-activa e adoro correr e saltar, e decidi exemplificar. Riu-se! Percebeu claramente que os saltos me tinham custado quase uma vida.

20h da noite. Mandou-me parar! Vamos ficar aqui. Espera. Sentou-se no muro virado para a Torre Eiffel. Estive 5 minutos a observar o muro, naquele momento eu própria sentia que ia subir uma Torre Eiffel, tentava descobrir qual o melhor método. Ele ria-se. Adoro divertir as pessoas com o meu sofrimento. 





Valeu a pena!
Foi um dia cheio (24-01-2016).
Foi uma conquista.

M.

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