sábado, 11 de março de 2017

Semi de Paris 2017



Voilà! 

A primeira de 2017 está feita! 

Frio, chuva e vento. É o que retenho maioritariamente desta prova.

Começou tudo na hora de ir buscar os dorsais... vou tentar acreditar que este momento foi mera coincidência e puro azar. 
Chegámos ao local e nem sei como explicar a infinita fila com que me deparei, sem exagero 2 km de pessoas que desenhavam uma serpente ao longo do parque, com impossibilidade de se visualizar o fim e sob chuva.
Um desconforto enorme, sem chapéu de chuva, sem casacos próprios ou pelo menos mais resistentes à água, foi sem dúvida um mau momento e que me fez chamar mil e uma coisas menos boas à organização.
Ao entrar no local, após a longa espera, este encontrava-se dividido por 3 zonas: certificados médicos, dorsais e tshirts. Ainda que ao entrar me tenha assustado porque era tudo "ao molhe e fé em Deus" a distribuição foi bastante rápida. O caminho até à saída era acompanhado de milhões de bancas de vendas de todo o tipo de coisas, meias, bolsas, chapéus, impermeáveis, géis e uma zona enorme dedicada à Adidas que era patrocinadora oficial (ainda que a tshirt não fosse da marca). Conclusão: tudo para apelar às sensações visuais das pessoas para as induzir a comprar, comprar, comprar... Felizmente só tirei uma foto num placard, grátis, e vim-me embora.

Primeiro sofrimento: Feito!

Dia da prova.

Stress ao mais alto nível (nada de novo...).
Acordei relativamente cedo, 7h da manhã e dediquei-me logo ao pequeno almoço.
Sempre tantas incertezas quanto aos pequenos almoços antes das provas. Ovos mexidos, uma barrita de frutos secos e sementes (feita por mim), 2 torradas pequenas com doce de frutos vermelhos, uma sumo de laranja e café.

Nhamiii... 
quanto às vontade nem um 'Oi'.

Os impermeáveis foram improvisados de sacos do lixo de forma a evitar trazer imensa roupa e ficar ainda mais pesada e para servirem de protecção inicial antes da prova.
Reparei que tinham uns caixotes de cada lado para roupa, para doação, para todas as pessoas que se vão despindo à medida que chegam à partida e assim a roupa não vai para lixo e é reutilizada . Gostei. Não me lembro de ter visto isto em Portugal.
Parti no último bloco, não sou rápida, não sou profissional, não tenho necessidade de atrapalhar ninguém. A prova começou às 9h e eu arranquei as 10h40, um grande atrasado em comparação com os primeiros blocos, ia passar a hora de almoço a correr. Esqueci-me de comer a minha banana. Neura.
Tirámos os impermeáveis e começámos finalmente a correr.

Para ser sincera não tirei prazer nenhum a nível de paisagem, chovia, fazia frio e a cada rajada de vento sentia-me congelar, batia contra a minha tshirt molhada e sentia-me a pedrificar. As mãos foram o pior e trouxe lembranças de guerra, desde a prova o meu polegar esquerdo está dormente, coisa que pensei que após um banho de água bem quente aliviasse, mas até à data permanece nestas condições.

O primeiro abastecimento chapéu, não estava preparada e atrapalhei-me um pouco com as imensas pessoas a tentarem recorrer ao mesmo. Decidi ignorar, devia ter 6km não era coisa grave.
Fizeram controlo de chip a cada 5km. Aos 12km não falhei o abastecimento, uma garrafinha de água para um pequenos goles e um pedaço de banana. Comi devagar, sem pressas, dei uns golinhos na água sem exagerar e continuei na minha. Por esta altura o meu miúdo já tinha começado a vacilar, desde o km 9 que já tínhamos baixado o ritmo, que inicialmente para mim até estava a ser bom e ia baixar o tempo da minha primeira meia maratona, até ao km 14 foi feito de forma calma, controlada, com uns retornos para o apanhar, controlo nas subidas, mas ... ele decidiu parar e mandou-me seguir. Desorientei-me por instantes, no que devia fazer, a ideia sempre foi fazer o percurso juntos mesmo que devagar, eu não trazia mais nada do que o meu relógio gps, como faríamos depois? ia ficar perdida... não tinha dinheiro nem para o metro, não sabia o número dele de cor ... mas fui continuando a correr, com um aperto no peito por o ter deixado para trás e por não saber como fazer no fim, num país que não é meu, sem dinheiro, sem telefone, sem identificação...

Até aos 14km foi-se fazendo bem como já referi, depois disso começou a vir a fadiga e a dores, aqui, ali, aborrecidas. Começaram a vir as contas, faltam 7km, faltam 6,5km, 'BIP' mais um controlo, faltam 6km, um abastecimento, deve ser o último, vou devagarinho sem atropelar nem ser atropelada, água check, banana check, ahhh! bolachas! uma check, comi tudo devagarinho, finalizei com uns golinhos de água e continuei.

Já não via forma de chegar, estava aborrecida, com frio, chuva teimosa e heis que me apercebo que é uma descida, uma grande descida, que continuou, km 17, km 18, uma ou outra parte plana e lá voltava a descer e eu a recuperar ritmo, a tentar, km 19 e muita conversa, percebo que há uma zona de fotos, eles anunciam, que porreiros! para evitar os momentos mais peculiares, já não sei se foi antes ou depois dos 20km, sorri, deu-lhes um V de Vitória e segui, 'BIP', último controlo até à meta ou seja 20 km, continuávamos em descida o que ajudava imenso porque me sentia a desfalecer. 

'BIP' e acabou !
21,1 km feitos!

Uma confusão gigante após a meta, seria a entrega das medalhas? comida? não, impermeáveis. Não percebi o porquê de tamanha confusão é só entregar... Ok fui buscar um porque a chuva continuava e tinha parado de correr, o frio atacava-me de tal forma que era duro falar ou mexer, as pernas arrastavam-se, esquerda pior que a direita como já tem vindo a ser habitual, uma dor de virilha que me condicionava bastante o movimento. Lá vesti aquele plástico gigante com capuz e fui buscar a minha medalha em em versão lesma. Sentia-me tão cansada que a medalha foi direitinho para o bolso dos calções.

E agora? Saio daqui? Passo a parte da entrega da comida e aguardo o meu miúdo lá fora? Dava-me jeito comer. Mas e se não o vejo? Ai que tenho tanto frio. Será que ele desistiu ou continuou? Peço a alguém o telemóvel para ligar! Bolas!... Não sei o número. Vou esperá-lo junto ao carro mas como faço com o metro? E como é que ele sabe que eu fui para lá?! 

Encontrei um mini pilar que me serviu de assento, onde me encolhi tanto que devia parecer um caracol de casca azul, aguardei, visualizava todos os que chegavam sem deixar passar um, tinha que ter calções e camisola de manga comprida, bolas ele podia colocar o impermeável e eu ia perdê-lo.
Não controlei o tempo que passou, era impossível mexer-me com o frio mas por um longo momento fiquei mesmo com receio de estar perdida no meio daquela confusão sem saber o que fazer.
Eu conheço aquela camisola e aquelas perninhas e ... e ... é ele!

Desmanchei-me a chorar agarrada a ele, porque senti sentimento de culpa por querer continuar, por não ter continuado com ele, por não ter esperado por ele, porque estava perdida, porque não sabia o que fazer. Tive um momento lamechas, foi um rasgo que me deu nada habitual. Passou.

Fomos atacar a comida, bananas, pauzinhos de chocolate, bolachas digestivas, bolo, entre mil e uma coisas que nem consegui perceber, mais a água claro. 

Uma segunda meia maratona até ao metro, não em distância mas em sofrimento, morria de frio e de dores, deve-me ter custado mais o caminho que fiz até ao metro do que as 2h de corrida. O dia a seguir estava moída mas logo, logo passou e estou pronta para mais uma !






M.

Sem comentários:

Enviar um comentário