sexta-feira, 4 de agosto de 2017

TRILHO DAS LAMPAS - 20KM - 13.05.2017


Nervos! Nervos! Nervos!

Vai-se lá saber porquê, mas queria imenso fazer este trilho, não sei se por ser tão pertinho de casa, se por todos os anos ouvir o pai a falar dele (a prova que faz desde a 1ª edição), mas a cabeça dizia que sim e assim foi, de coração atrás!

O Trilho das Lampas acontece ao sábado ao final do dia e consoante a velocidade de cada um, ainda se pode ver um pôr-do-sol espectacular na praia da Samarra (que claramente não foi o meu caso).

Estava exclusivamente nervosa por ser o meu trilho oficial mais longo e ainda por cima com grande parte percorrida durante a noite, conhecendo já eu o percurso e tendo perfeita noção de que certas zonas à noite iam ser bem complicadas.

A grande novidade e muito boa é que… o pai disse que me ia acompanhar! Tive sentimentos mistos, super feliz por mim que ia com a melhor companhia possível e que ainda por cima conhece super bem a zona o que me dava segurança a triplicar, mas, por outro lado, o meu pai faz esta prova desde a 1ª edição e pela primeira vez ia fazer uma prova de treta porque eu meti na cabeça que ia fazer esta prova. Meu pai! Podia lá eu pedir melhor… e vais fazer-me tantas, mas tanta falta que nem me cabe no peito a dor que sinto…


Sem pressas, eu e o pai ficámos no fim, tentando assim evitar as pessoas que vão com a ‘gula’ e que atropelam os demais, eu sabia perfeitamente que não ia para lá para ganhar, pelo que partir no fim, no meio ou no início, era-me completamente irrelevante, eu só queria terminar e de preferência abaixo das 3 horas.

PROVA

O início tem uma voltinha meio tola, no jardim principal de São João das Lampas em forma de ‘S’ e depois passa-se para o outro lado da estrada em direcção à costa e aos trilhos.

A primeira parte do percurso, eu diria que é a mais fácil, descemos muito mais no início da prova, ou seja, no início andava eu feliz da vida, mas como partimos no final apanhámos muitas pessoas pelo caminho com mais dificuldades do que eu e com mais mariquices, querendo eu dizer com isto, que apesar de ser um zero à esquerda e super coxa (das duas pernas atenção!) não sou nada comichosa com a sujidade, com meter os pés na lama ou água e por aí fora… o que significa que se não encontro uma solução menos agressiva, não perco tempo e faço o que tenho a fazer.

Primeiro obstáculo: água, um mini riozinho e ficámos logo parados, sim, porque depois são caminhos estreitos, o que significa que enquanto os da frente não passarem, tu não vais a lado nenhum e ficamos todos ali encalhados. Depois do obstáculo de água veio logo uma subida, o que acabou por nos empatar imenso, depois do obstáculos tínhamos ficado todos muito em cima uns dos outros, sem grandes margens e depois eramos tantas pessoas, em filinha, a andar, a avançar devagarinho, até dava para socializar e falar de peúgas, coser peúgas e sei lá eu mais o quê, mas a rapariga que ia à nossa frente falava sobre esse dilema da vida dela, ela e as peúgas, claro o palhação do meu pai achou por bem manifestar a sua teoria da peúguice (inventada à pressão) que só visto (ouvido!)…

Não consigo ser específica quanto às zonas por onde andava, o meu sentido de orientação é péssimo, pelo que as minhas descrições sobre as minhas provas em trilhos é deveras hilariante, baseando-se em caminhos, verde, montanha, árvores, arbustos, verde, montanha, estreito, subidas,… Com base no descrito anteriormente, lá estávamos nós num caminho estreito, meio enlameado, entre arbustos e em frente uma poça de lama com proporções assim grandinhas, a nossa única hipótese era um caminho à direita, muito estreitinho, a ser feito com um pé à frente do outro e devagarinho. Era a minha vez. Seguia o pai passo a passo, devagarinho. Não é que a rapariga atrás de mim se agarra às minhas ancas, claro, desequilibrei-me e fugiu-me o pé e eu caí para o lado direito onde me equilibrei mais ou menos com a mão e molhando apenas a perna e o braço do lado direito (percebi no dia a seguir que tinha caído de tal forma com a mão que espetei qualquer coisa entre a unha e dedo e acabei por ficar com a unha negra), para minha surpresa a rapariga diz “Ah era par te ajudar, pelos vistos foi má ideia…”, não quero tecer comentários, ou pelo menos muitos, principalmente porque tenho a vaga ideia que ela é que se desequilibrou e acabou por se agarrar a mim, eu que não estava de todo à espera … pumba! Charco.

A partir daqui foi mais do mesmo, subidas, descidas e mesmo nas descidas tínhamos que ir devagar ou corríamos o risco de ir a rebolar lá para baixo. As subidas para mim foram sempre muito custosas, a asma continua a vencer-me muito aqui e não sei como controlar, mesmo a fazê-las a andar (com um bom ritmo) fico completamente estafada e com falta de ar, a garganta a saber a sangue, o corpo super pesado, os pulmões apertadíssimos e a sentir-me uma porcaria.

O pôr-do-sol. Seria se nesta altura já tivesse passado a praia da Samarra e já tivesse subido as suas arribas, a partir daí o percurso já não era tão técnico e assim o mais difícil tinha sido feito com a luz do dia. Claro que isso não aconteceu, não ao ritmo das minhas pernas, quando se deu o pôr-do-sol ainda nem estava a descer para a praia, estava a terminar um subida e ainda me faltava um pouco para começar a descer para a praia.


A chegada à praia para mim já representava uma vitória, significava para mim um pouco mais do que metade do percurso feito. Quando cheguei à praia sorria, para mim e por mim, mas pouco tempo nos demoramos lá, ainda havia uma réstia de luz e o pai queria ao máximo aproveitá-la para subir as arribas da praia, que ainda eram lixadas. Lá em cima havia um abastecimento, só bebi água, o pai disse para comer, não me apetecia, parecia que ainda estava a arrotar o almoço tardio.  


Nestas descidas das arribas, houve uma que demos com alguém lesionado, que estava caído entre as rochas e todas as pessoas assobiavam, aproveitavam os apitos que tinham para chamar a atenção (aliás acho que servem exactamente para estas situações) e ninguém do staff se mexia. A uns 3 metros de mim estava um senhor da organização e ia embora, começámos todos a gritar por ele, até que lá veio ter connosco. Tentámos explicar a situação, ainda não tínhamos visto a pessoa, mas entendemos quase imediatamente o que se estava a passar, alguém tinha caído e precisava de assistência. Começámos a descer e o senhor chama-nos a dizer para confirmarmos se era verdade… Depois de ouvir mil pessoas a chamarem por ele e a pedir assistência, estava a pedir-nos para descer tudo e depois o que? voltar a subir? não tenho comentários, deviam estar preparados para estas situações, aliás, nem sei como iam socorrer a pessoa porque ali só de helicóptero…

Quando finalmente começámos a dar a volta, por dentro, sem virmos encostadinhos à costa, já eu ia mais para lá do que para cá, estava cansada, sentia-me amassada, mais facilmente cedia nas subidas e depois, deixem-me que vos diga que não fui feita para as lanternas na cabeça! Normalmente é uma comichão louca, não dá, desta vez para precaver essa situação levei aqueles lenço/fita (nem sei como é que se chamam, nunca tinha pensado sobre o assunto) mas nem assim, ora puxava para a frente, ora empurrava para trás, depois a minha luz era muito fraquinha, fartei-me de tropeçar, tinha que andar colada ao pai para conseguir ver o chão, mas depois já estava tão cansada que o perdia em segundos… coitado! Tem uma santa paciência e veio sempre a “puxar” por mim.

Quando largámos a parte dos trilhos e finalmente vi alcatrão só pensava “Estou a chegar. Estou a chegar.”, devia estar a 1 km da meta mas pareceu-me interminável, o pai continuava a “puxar” por mim e lá ia eu, meio em jeito “encantado” pois forças eram nenhumas.




Meta!!! 2h43m19s, menos de 3 horas. Feito!






"Agora só quero ir comer a minha sopinha, tomar uma banhoca e não me mexer durante uma semana!"

M.

6 comentários:

  1. "o meu sentido de orientação é péssimo, pelo que as minhas descrições sobre as minhas provas em trilhos é deveras hilariante, baseando-se em caminhos, verde, montanha, árvores, arbustos, verde, montanha, estreito, subidas" - Se assim eu já fico cheia de vontade de experimentar uma prova em trilhos, imagina se a descrição fosse diferente :P

    Quanto aos frontais, a única vez que comprei um (logo no início destas andanças, em Janeiro talvez, corria muitas vezes de madrugada e ainda de noite em Monsanto) ainda não estava convencida que iria correr à séria. Achei que mais cedo ou mais tarde ia desistir portanto, entrei na decathlon com aquele sentimento de "Despacha-te, compra um qualquer para desenrascar!". A verdade é que comprei o meu frontal por 3.99€ e, na madrugada seguinte quando o liguei em Monsanto, todos os meus colegas com frontais de 50€ (preço mínimo) disseram "WOW!!!" ahahahahah mas também o usava com uma fita na cabeça. Não será do material que é feito o teu?

    Fiquei com vontade de experimentar o trilho das lampas. E temos de combinar um treino em Sintra um dia destes! :)

    Excelente prova, muitos parabéns!

    Beijinhos

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    1. Se tivesse "skills" de escrita já estavas inscrita numa prova ahahah

      Já não é a primeira vez que uso frontal, mas acho que não me entendo de todo com aquilo na cabeça... Não dá.

      Aponta já na agenda de 2018 :) em Maio e eles normalmente na 6feira Santa (+/- 1 mês antes) fazem sempre um treino dessa prova e de manhã, pelo que podes fazê-la a dobrar :D ou em jeito de preparação.

      Não fui das primeiras a chegar, mas para mim foi uma excelente prova ^^ Obrigado

      Beijinhos

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  2. Só hoje aqui cheguei e estive entretida a ler tudo de uma ponta à outra... :)

    Em primeiro lugar, a tua cara não me é nada estranha! Provavelmente, do Cork, em que acabámos com tempos muito próximos e era uma prova com pouca gente. Eventualmente, de outras provas que vi que fizemos as duas. Mas tenho mesmo ideia de já te ter visto! :)

    Em segundo lugar, parabéns! Nota-se uma evolução enorme não só no nos teus tempos mas também no aumento das distâncias. Muito bom! Qual asma, qual quê?! És um claro exemplo de que quando queremos, conseguimos!

    Vou ficar por aqui a assistir aos próximos episódios também :) Bons treinos!

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    1. Bom saber que alguém tem paciência, da mesma forma que falo pelos cotovelos, aparentemente também escrevo ...

      As coisas giras das provas deste estilo são essas, começas a reconhecer as caras e a falar a pessoas que não conheces de lado nenhum mas sentes uma proximidade por terem a mesma "paixão" ou "divertimento".

      Tenho fases, ora tenho estou super bem e me aguento melhor ou parece que tenho o peso de 5 pessoas e tudo me custa. Mas fico muito feliz quando consigo concretizar estes meus pequenos (grandes) desejos, devagar ou como quer que seja.

      Bons treinos e Boa sorte para esta nova fase!

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  3. Já me disseram maravilhas dos Trilhos das Lampas, mas nunca participei. Apenas o fiz no ano passado na Meia Maratona das Lampas e com muita pena minha não vou poder regressar este ano. Com a minha apetência para trail também iria certamente perder o pôr do sol. :)

    Fizesse eu o relato de um trail como faço das provas de estrada também seria assim. Uma subida e depois uma descida e o raio de um ribeiro lá no meio onde não havia caminho alternativo. E paisagens muito fixes. :)

    Não tendo participado nas provas que tens descrito a tua cara também não me era estranha e sei perfeitamente de onde te "conheço". Foi de um sítio onde fiquei a saber, por exemplo, que a Rosa Mota também é asmática.

    Beijinhos!

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    1. Adorei o Trilho das Lampas, adorei. Não sei se em grande parte pela ligação do meu pai com o mesmo, pelo facto de ter sido o meu trilho mais longo até à data (e provavelmente para sempre), se por ser aqui na minha zona, se pelas paisagens... um pouco irrelevante, gostei e pronto.

      Esse teu pequeno parágrafo para descrever o trail acho que é reutilizável para um próximo que eu faça, porque efectivamente é isso «Uma subida e depois uma descida e o raio de um ribeiro lá no meio onde não havia caminho alternativo. E paisagens muito fixes. ».

      Ohhhhh!!!! Bom saber que alguém tem paciência para ler os meus testamentos.

      Beijinhos e Boas corridas !

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